Estamos sobrevivendo bem por aqui, sendo trabalhados por Deus dia-a-dia nesta nova caminhada, cheia de desafios interessantes e muito trabalho. Apesar do pouco tempo que estamos aqui (2 meses), parece que já estamos aqui há muitos anos. Fato é que a vida mudou. E muito. Estamos em um pique muito diferente do que tínhamos no Brasil. Enquanto nos encontrávamos em Brasília a vida era agitada, muitas atividades como igreja, banda, trabalho, família, amigos, compromissos diversos, era essa a nossa intensa e abençoada jornada diária. Estamos vivendo um ritmo oposto aqui nos EUA, a começar pelo desafio da língua que, em si, já é muito engraçado (não encontrei uma palavra melhor). Engraçado porque, apesar de estarmos nos virando muito bem por aqui com a comunicação diária, viver em uma cultura onde português não é a primeira língua (nem segunda, nem terceira, quarta...), e sim o inglês, traz consigo uma mudança psicológica na maneira como lidamos com os problemas e questões da vida: adaptação cultural (vale um estudo profundo sobre o assunto, em termos missiológicos). As pessoas aqui são iguais ao Brasil, mas são diferentes. Pensam diferente em muitas coisas e agem diferente também, principalmente aqui nos sul dos EUA.
Estamos bem no meio do Bible Belt (como é conhecida essa região), uma área com muitas igrejas e onde ser protestante é como ser católico na América do Sul (no sentido bem religioso da coisa). Portanto é muito comum ver famílias inteiras na igreja, gerações e gerações de cristãos, mas que muitas vezes podem ser apenas crentes nominais (parece com alguma coisa que a gente já conhecia, né?). Caracteristicamente, o Mississippi também é um estado bem 'welcoming'; as famílias muito sólidas e as pessoas, normalmente, muito simpáticas e amistosas. Ainda assim existem resquícios da segregação racial que foi realidade do sul nas décadas de 40, 50 e 60, entre brancos e negros (uma terra sem morenos, por incrível que pareça. Aqui ou você incrivelmente branco ou bem escuro. Logo, a Débora é basicamente uma nativa eu sou uma espécie de 'brownie'...).
A vida aqui é mais "calma" (muito cuidado). Não temos mais aquela loucura de tomar banho em 2 minutos, ficar pronto em 1, dirigir em 30 segundos, e trabalhar 16 horas por dia. O tempo aqui passa devagar, bem devagar. As pessoas dirigem a 40 km/h, metade da população tem mais de 60 anos de idade, os hábitos de vida são BEM "interior dos Estados Unidos": casinhas de madeira e tijolinhos, senhoras à porta fazendo seu tricô lentamente, pais e filhos brincando de baseball, futebol americano ou 'bocce' nos parques em plena semana. Confesso que, apesar da inusitada beleza, é um estilo de vida que leva tempo pra se acostumar quando comparado ao ritmo e facilidades de uma cidade grande como Brasília. Aqui tudo é bem campestre e rural, as pessoas são assim, a igreja é assim. Os valores das famílias são bem tradicionais e interioranos, conservadores no geral. Em tudo existem aspectos positivos e negativos, mas por hora digamos que é apenas diferente, e é nesse contexto que Deus tem trabalhado particularmente em minha hiperatividade e metabolismo acelerado. Dá pra acreditar que realmente Deus nos trouxe pra um lugar assim? É quase terapia! Às vezes da nos nervos, he he he, pois há muito tempo pra pensar, refletir, pensar, e refletir, e pensar de novo, e... refletir mais um pouquinho. Não que, gradativamente, não vão surgindo novas atividades e compromissos à medida que nos criamos amizades e nos envolvemos com a igreja aqui, mas a dinâmica é tão veloz quanto a de um jabuti.
Isso tem sido bom para os estudos. Muito bom! O ritmo no seminário é forte, há muita leitura e trabalhos, e é tanto trabalho que todo o tempo que temos para fazer tudo isso parece pouco. Nas aulas de hebraico, por exemplo, faço um esforço triplo (português > inglês > hebraico, e vice-versa), mas aos poucos o português vai "sumindo" do cotidiano (calma, calma, não priemos cânico). O seminário tem uma vida comunitária e devocional animada. Temos cultos todas semanas e reuniões de oração entre alunos e professores, o que é uma boa, porque cria um relacionamento muito próximo com eles e são excelentes oportunidades para se exercitar a espiritualidade. Em breve teremos trabalhos missionários e de pregação na comunidade, estamos todos ansiosos por eles. Além disso estou trabalhando no escritório de matrículas do seminário com alunos prospectivos, ajudando no processo recrutamento e admissions. São apenas umas 10 horas por semana (umas 2 horas por dia), e com certeza dá uma ajudinha no orçamento.
Débora tem feito coisa pra caramba! Ela frequenta as reuniões das esposas de alunos do seminário, um ministério carinhosamente chamado de Mrs. in Ministry - Esposas em Ministério. Uma bênção! Além disso ela tem reunião com alunas estrangeiras, aulas de inglês na igreja, trabalhos em casa, e ultimamente tem andado muito com a Foklina, esposa do Dr. Elias Medeiros, acompanhando-a em atividades diversas. Enfim, tá ralando mais que eu! O inglês da minha loirinha tá ficando um show, daqui há alguns dias vai estar me ajudando com os assignments and papers, he he.
Temos feito várias amizades por aqui, porque muitas famílias também moram no campus do seminário como nós, e isso cria uma aproximação especial. Há um outro brasileiro morando no campus conosco, o Danillo, que é filho do Rev. Valdeci do Mackenzie, SP, um menino muito gente boa com quem temos trocado muita figurinha. Tem também o Maurício e Danielle Menezes, e o pequeno Caio, de 4 anos. Eles vieram de Cuiabá e moram nas townhouses, que são casas do seminário que ficam a 3 km do campus, igualmente simpáticos. O pai do Maurício, Rev. Maurício, é amigo do Pr. Valter Moura de longas datas, da época no Mato Grosso. Além disso temos nos relacionado bastante com o Emílio, Anelise e Gui. Os jogos do Gui no campeonato já começaram e o moleque tá jogando bola pra caramba! Marca gols quase todos os jogos e dá o sangue pela camisa (literalmente). Na semana passada fizemos uma viagem curta de um dia a New Orleans, terra do Jazz e do Blues, com Anelise, Emílio e tia Regina Garófalo, mãe do Emílio, que estava aqui nos visitando. Uma cidade muito peculiar, cara de Brasil, um paraíso musical para os meus ouvidos. Ai, ai... O povo tocava jazz no meio da rua, tsc,tsc,tsc. Uma ofensa à minha nostalgia!
Nesta semana teremos conferência missionária no seminário, organizada pelo Dr. Elias Medeiros, que é o professor brasileiro que temos na área de missões, e estarei tocando teclado nos períodos de louvor com uma "banda" que formamos entre os alunos (eita saudade dos meninos!). É claro que não é a mesma coisa que tocar com a SondaFé, mas o que vale é a intenção, e o pessoal aqui é muito dedicado nos ensaios.
E PRA FINALIZAR: continuem orando por nós. Orem bastante mesmo. Uma das coisas difíceis da distância é que, apesar de toda a tecnologia, internet, skype, etc, não dá pra acompanhar as notícias do que tá acontecendo aí com a mesma velocidade e detalhes, e nos sentimos um pouco desconectados (a sensação é horrível). Então, mandem notícias, escrevam de vez em quando só pra dar um "oi" mesmo, já é bom demais pra aliviar um pouco da saudade e saber que vcs ainda estão aí, he he.
Um beijo e um abraço grande da nossa parte, na pessoa de Cristo, aquele que nos justificou, nos salvou, e nos dá alegria todos os dias de manhã.
MATHEUS & DÉBORA